Moullinex ou o talento infindável de Luís Clara Gomes.
Um dia foi Engenheiro. Ou talvez ainda seja, e da investigação científica ainda mantenha alguns laivos na dedicação acurada e multi-instrumentista, na pesquisa e nos retalhos de estudo palpável em estúdio. Ou nós assim gostamos de imaginar, ao entrar naquele seu espaço.
Foi em Outubro que apresentou o sucessor de Elsewhere: o glorioso Hypersex foi celebração e presente pelo aniversário do MAAT, um álbum colaborativo que é uma verdadeira carta de amor à cultura do clubbing e que coloca, por isso, a música e a dança como objecto de felicidade, trabalhado como forma de libertação ou escape por entre as fendas grosseiras que vemos ferir os dias, sem olhar a credos, políticas ou géneros.
E não fosse, desde sempre, a cena clubbing pautada por uma saudável promiscuidade artística, é também aqui que a visão de Moullinex se mostra desafiante. Em torno de Hypersex ecoam diálogos criativos, entre artistas, designers, ilustradores, músicos. E aqui nada se repete, nem nada voltará a ser igual.
“Para ser verdadeiramente colaborativo, era necessário olhar para este mesmo objecto, este disco e este conceito, através do olhar de vários artistas”, diz-nos. E dessa visão nasce um disco, mas também uma fanzine que segundo o próprio “reúne talentos internacionalíssimos na ilustração, onde todos interpretaram o que é isto da carta de amor ao clubbing de uma forma muito pessoal, ajudando a ter estes pontos de vista múltiplos sobre o mesmo assunto”. Em resultado, encontra-se em marcha um segundo volume, mantendo-se sublinhada, em todo o processo, a participação de Braulio Amado – o talento por trás das capas dos seus três álbuns e por tantas vezes desafiador de criações e dinâmicas mais complexas como esta. Mas esta turbilhão de criatividade têm ainda extensão ao palco, em manifestos live que farão a delícia, sem dúvida, desta noite.
Com vários convidados ainda em segredo e um playback assumido face às ausências de algumas das vozes do álbum, Hypersex apresenta-se em pleno Coliseu com uma essência de drag show.
“O drag show é o centro do concerto novo, trazido um bocado para a modernidade com uma tecnologia com 40 anos, que é a croma-key, mas trouxemos isso para a modernidade porque está a ser feita em tempo real, ou seja, existe um palco ao lado do palco onde a performance drag do Ghetthoven está a ser projectada fechando este conceito visual em palco.”
Ghetthoven, aliás, para quem ainda não conhece, é um talento poderoso que já nos havia fascinado ora no festival LisbOn ora na já referida apresentação no MAAT, tornando-se sem dúvida uma peça-chave para aquele que promete ser o concerto da noite, hoje, às 00:30 no Coliseu dos Recreios, no fecho deste grande #Mexefest.
Vamos?
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