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do Tremor, com amor. parte I

A verdade é que não fui ao Tremor para escrever nada.

Contar de ninguém, por isto ou por aquilo. Queria apenas ir e deixar-me levar por aquele temporal enorme que o Diogo Lima anunciara (já muito antes do boletim meteorológico de 2017) e que envolveu na tormenta quem me é próximo, primeiro, e me enredou no vento depois.

O pensamento de ir ao Tremor deixou-me desassossego, mais do que excitação. Porque se já tinha ensaiado várias partidas em falso para os Açores e se o festival seria o meu cicerone ao primeiro pé numa das suas ilhas, queria garantir uma coisa: que o tempo fosse meu e que fizesse dele o quisesse, no embalo da pulseira, sim, mas para além dela.

 

Que vivesse ali uma semana mais de peito aberto do que olhos arregalados aos nomes em line-up e horas a marcar presença, com a liberdade de ver ou não ver o que me apetecesse, sem correr ou ignorar a ilha, as pessoas, as cores, os sons da terra e da fala – que ali trazem música e arte, também. Acho que, no fundo, conhecesse muito ou pouco do que se viria a passar, queria encontrar um festival vivo, como a promessa da terra que o acolhe e a tempestade que acorda já Inverno volvido, venha quem vier, esteja quem estiver.

 

 

E acho que o Tremor meu deu isso tudo, preparado, sem eu lhe pedir: um festival-surpresa, feliz, que tanto dá e pouco pede em retorno.

 

Só posso evocar a nobreza enorme que é proporcionar-se um festival de cuidado dedilhado e conteúdo bem aceso, com um bilhete a 20 euros. É de vénias receber-se assim público, artistas e habitantes, sem ser precisa grande algazarra, numa terra que é pólvora para o peito e onde ali mesmo se vê criado chão novo para quem pisa S.Miguel pela primeira ou pela enésima vez…

 

…sob a sensação despretensiosa de que é possível redescobrir o mar e gente com sal, novos nomes e velhos nomes da música, cruzar artes e remisturar espaços ou enquadramentos de verde, como quem brinca à cabra-cega connosco.

 

Trepamos das tascas gulosas às paredes da nova-arquitectura-nova, passamos das lagoas curvadas à música ao vapor e vamos pelas mãos de gente nova a puxar por outra gente de fôlego agora renovado, aqui: onde todas as peças parecem cautelosamente pousadas para que cresça amor a quase tudo e um agito dos pés ao estômago.

 

Comoveu-me um documentário; mexeu-me a fotografia; revirou-me a dança de/por/com amigos; concertos de noite a acordar-me para o dia; caminho a perder de vista, ao improviso, e que me conduziu a casa de peito cheio.

 

Pensar no Tremor é pensar no primeiro mergulho em águas quentes, uma amostra de coisa boa que se explica com cheiro sabor e saudade, já.
Era só isto que queria e foi tudo isso que trouxe.
Obrigada Tremor.
Fotos: Silvia Lopes @sforshot

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